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Dr. José Humberto Mesquita Filho tem mais de 20 anos de experiência profissional. Graduação em Medicina pela FCM-UNICAMP, com especialização em Clínica Médica pelo HC-FMUSP e especialização em Cardiologia Clínica pelo INCOR/HC-FMUSP, tendo realizado Fellowship na Unidade Clínica de Coronariopatias Agudas do INCOR/HC-FMUSP.
Possui Título de Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Título de Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB).
Exerceu por mais de 15 anos o cargo de Coordenador da Unidade Coronária do Hospital da PUC-Campinas e é atualmente reconhecido como referência em Cardiologia Clínica no Estado de São Paulo. Atuação destacada na prevenção dos fatores de risco cardíacos e no tratamento de doenças cardíacas graves ou potencialmente graves, notadamente as doenças coronárias, insuficiência cardíaca e arritmias.
Maria Cristina Lopes Igrissis de Mesquita tem mais de 10 anos de experiência profissional na área clínica. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC- Campinas). Atua em questões relacionadas à ansiedade, depressão, relacionamentos, autoconhecimento e outras dificuldades emocionais, com ênfase no atendimento de adolescentes e adultos.
“Eu gosto mesmo é de gente, de ouvir histórias, de me conectar, saber onde, como e quando tudo começou, gosto dos detalhes, das sutilezas, das pequenezas que compõem uma pessoa. Assim sigo, encantada pelas pessoas, dando o meu melhor para que elas encontrem o seu melhor.”
Hipertensão Arterial, conhecida como “pressão alta”, é uma condição médica extremamente prevalente em toda a população mundial. Os níveis de pressão arterial elevados podem causar danos ao longo do tempo em diversos órgãos do corpo, como os olhos (principalmente as retinas), o coração, os rins e o cérebro. A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para o desencadeamento de eventos graves como o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Entre as principais causas de Hipertensão Arterial estão: a história familiar (fatores genéticos), a obesidade, o hábito de fumar (tabagismo), o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o estresse crônico, o consumo exagerado de sal, a falta de atividade física (sedentarismo), a falta de sono adequado por uma má higiene do sono ou pela presença de apnéia obstrutiva do sono (roncos excessivos associados a um sono não reparador). Várias doenças podem levar ao aumento dos níveis de pressão arterial, como o hipertireoidismo, a doença crônica dos rins (insuficiência renal), a estenose das artérias renais, além de condições mais raras como o hiperaldosteronismo (a produção excessiva de hormônios que levam à retenção de sal, causando aumento da pressão arterial), o feocromocitoma (um tumor das glândulas adrenais que causa elevação da pressão arterial e palpitações) e a coarctação da aorta (uma alteração congênita na qual há um estreitamento na aorta levando ao aumento da pressão arterial). Uma avaliação médica cuidadosa é fundamental para a avaliação das diferentes causas e o estabelecimento de um tratamento médico adequado.
O uso excessivo ou indiscriminado de medicações como anti-inflamatórios não hormonais, corticosteróides ou estimulantes do sistema nervoso central podem levar ao aumento não desejado da pressão arterial. Muito cuidado com “fórmulas milagrosas” ou “reposições hormonais” que muitas vezes contém excesso de substâncias ou hormônios que podem causar não somente elevação da pressão arterial mas também elevações nos níveis de colesterol, do açúcar no sangue (glicemia) e lesões em diversos órgãos como os rins, o fígado e o coração. O uso de energéticos, anabolizantes e termogênicos também podem causar elevações da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, bem como o uso de diversas drogas ilícitas, o que infelizmente tem acontecido cada vez mais frequentemente com a população mais jovem.
Na maioria dos casos, o paciente com aumento dos níveis da pressão arterial não apresenta sintomas – o que mostra a importância de se realizar uma avaliação cuidadosa com o cardiologista, para a detecção precoce da Hipertensão Arterial. No entanto, deve-se dar atenção a sintomas como: dor de cabeça, dores no peito, tonturas e zumbidos, alterações visuais como visão embaçada ou pontos luminosos, fraqueza e sonolência, falta de ar, palpitações – eles podem estar relacionados ao aumento dos níveis da pressão arterial.
As atuais diretrizes consideram que níveis de pressão arterial no repouso iguais ou acima de 140/90 mmHg caracterizam o diagnóstico de hipertensão arterial. No entanto, dados recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) evidenciam que deve-se dar atenção especial a pacientes com níveis de pressão arterial acima de 120/70 mmHg, que podem ser candidatos a tratamento a depender de outros fatores de risco, como diabetes mellitus, colesterol alto (dislipidemia), doença renal e doença aterosclerótica.
Recomenda-se a todos os pacientes que adotem um estilo de vida saudável: alimentação rica em frutas, verduras e legumes, evitando o excesso de sal e o consumo de alimentos ultraprocessados e industrializados; a prática de atividade física regular – inicialmente leve a moderada, pelo menos 3 vezes por semana; parar de fumar caso o paciente seja tabagista; moderar o consumo de bebidas alcoólicas. Muitos pacientes necessitarão acompanhamento médico regular com o cardiologista, que avaliará a necessidade do uso de medicações de uso diário para o controle da pressão arterial.
Há indicação de se procurar o setor de emergência de um serviço de saúde em situações em que a pressão arterial estiver muito elevada, normalmente acima de 180/110 mmHg, e o paciente estiver apresentando sintomas relevantes como dor no peito, dificuldade para respirar, tontura com náuseas e vômitos ou alterações visuais. O médico da emergência avaliará a necessidade de medicações para abaixar mais rapidamente a pressão arterial, bem como a necessidade de internação hospitalar para investigação do quadro e estabilização do paciente. É muito importante o seguimento posterior com um médico cardiologista de confiança para o controle da pressão arterial bem como de outros fatores de risco.
Alterações emocionais do tipo transtorno de ansiedade generalizada e crises de pânico podem se apresentar com sintomas muito semelhantes aos das crises de Hipertensão Arterial, inclusive com elevação dos níveis de pressão no momento da crise. É importante que seja realizada uma avaliação médica cuidadosa para avaliar se o tratamento deve ser direcionado ao controle do distúrbio emocional e para se avaliar o quanto as alterações emocionais estejam influenciando nos níveis de pressão arterial.
Atualmente existe um “arsenal terapêutico” bastante amplo para o tratamento adequado da pressão arterial, e uma das regras de ouro é que o tratamento deve ser individualizado caso a caso. Uma medicação que funciona bem com um paciente pode não funcionar ou causar efeitos colaterais em outro paciente, e por isso é muito importante que médico e paciente estabeleçam um bom diálogo para que as necessidades estejam claramente estabelecidas. Além disso, existem medicamentos que se adequam melhor a determinados perfis de paciente, por exemplo: diabéticos, pacientes com doença renal, pacientes com infarto prévio ou doença conhecida das artérias coronárias, pacientes com insuficiência cardíaca.
Normalmente não há necessidade de mudanças caso o tratamento esteja adequado, com níveis de pressão adequados e sem efeitos colaterais. Muitas vezes, no entanto, o tratamento está insuficiente e pode haver uma certa “inércia” por parte do médico, do paciente ou de ambos impedindo a otimização do tratamento. Em todos os casos, é fundamental que sejam realizadas visitas regulares ao médico cardiologista, que avaliará se o tratamento está adequado, se as metas estão estabelecidas e se não estão ocorrendo alterações indesejadas.
A elevação dos níveis de colesterol no sangue, conhecida como Dislipidemia, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A principal molécula causadora de danos no sistema cardiovascular é o LDL-colesterol (“Low Density Lipoprotein”, ou Lipoproteína de Baixa Densidade). Os níveis elevados do LDL-colesterol, com o passar do tempo, causam o depósito de placas de aterosclerose (conhecidas como “placas gordurosas”) na parede das artérias e, com isso, o aumento do risco de doenças graves como o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Quando é realizada a dosagem dos níveis de colesterol no sangue, é realizada a avaliação também dos níveis das diversas frações do colesterol. A molécula conhecida como “colesterol ruim” é o LDL-colesterol, e a elevação dos níveis dessa molécula está diretamente relacionada às doenças cardiovasculares causadas pela doença aterosclerótica, que é o depósito das chamadas “placas gordurosas” na parede das artérias – especialmente das artérias coronárias (que levam sangue e oxigênio para o músculo cardíaco), das artérias carótidas (que levam sangue e oxigênio para o cérebro) e da aorta, que é a principal artéria do corpo.
A molécula conhecida como “colesterol bom” é o HDL-colesterol (“High Density Lipoprotein”, ou Lipoproteína de Alta Densidade). O HDL-colesterol é responsável por auxiliar na remoção do excesso de colesterol do corpo, contribuindo para que não haja progressão da doença aterosclerótica.
De uma forma geral, deve-se dar atenção a níveis de colesterol total acima de 200 mg/dL ou de LDL-colesterol acima de 130 mg/dL. No entanto, os valores dos níveis desejáveis de colesterol variam de acordo com o perfil dos pacientes. As diretrizes brasileiras estabelecem que, em pacientes com doença aterosclerótica avançada ou com eventos cardiovasculares prévios (infarto do miocárdio ou AVC, por exemplo), os níveis de LDL-colesterol devem estar abaixo de 50 mg/dL. Em pacientes diabéticos ou de alto risco cardiovascular, a recomendação é manter os níveis de LDL-colesterol abaixo de 70 mg/dL. Por isso a importância de uma cuidadosa avaliação com o médico cardiologista, que deverá estabelecer o risco cardiovascular do paciente, definir as metas terapêuticas e, em conjunto com o paciente, definir o caminho a ser seguido para atingi-las.
Todos os pacientes devem adotar um estilo de vida saudável: realização de atividade física (inicalmente leve a moderada) pelo menos 3 vezes por semana e alimentação adequada, evitando alimentos ricos em gordura vegetal hidrogenada (alimentos industrializados e ultraprocessados), bem como alimentos ricos em gordura de origem animal ou gordura saturada, como embutidos, frituras, carnes gordas e laticínios ricos em gordura. Alimentos ricos em gordura vegetal ou insaturada são considerados saudáveis, como as castanhas e amêndoas, o azeite de oliva e os peixes – notadamente salmão, atum e sardinha.
Na maioria dos casos, entretanto, a origem do colesterol alto está ligado diretamente à genética do paciente. Não são incomuns casos de pacientes que apresentam elevação significativa dos níveis de colesterol mesmo tendo um estilo de vida saudável, tratando-se normalmente de pacientes com história familiar conhecida de colesterol alto.
Muitas vezes, portanto, será necessário o uso de medicações para o controle adequado dos níveis de colesterol. As principais medicações são as estatinas (como a rosuvastatina e a atorvastatina) e o ezetimibe (que normalmente é utilizado em associação com as estatinas). Mais recentemente surgiram novas drogas de alta eficácia e perfil de segurança extremamente favorável, notadamente a inclisirana (medicamento administrado por injeção subcutânea de uso semestral) que hoje constituem opção terapêutica viável para o sucesso no atingimento das metas de colesterol.
As medicações atualmente utilizadas para o controle do colesterol foram testadas em estudos clínicos rigorosos, com tempo prolongado de seguimento dos pacientes, sendo que várias delas já tem seu uso difundido há mais de 30 anos. São drogas consideradas seguras e de baixo risco para os pacientes. Embora não seja a regra, o principal efeito colateral decorrente do uso das estatinas como a rosuvastatina e a atorvastatina é a dor muscular, que embora não seja considerada uma alteração grave pode causar desconforto ao paciente, limitando a utilização da medicação. O médico cardiologista deverá entender as necessidades do paciente e buscar opções terapêuticas, dada a importância do controle adequado dos níveis de colesterol.
O HDL-colesterol, conhecido como “colesterol bom”, está diretamente relacionado a um estilo de vida saudável, notadamente à prática de atividade física regular. Considera-se atualmente que níveis de HDL-colesterol acima de 40 mg/dL sejam adequados, sendo que níveis acima de 60 mg/dL conferem efeito protetor. O consumo de alimentos ricos em gordura insaturada como castanhas, azeite de oliva e peixes e a prática de atividade física (evitar o sedentarismo) são as melhores medidas para manter níveis adequados de HDL-colesterol.
A principal causa de Dislipidemia ou colesterol alto é a história familiar. Os níveis de colesterol no sangue estão diretamente relacionados à capacidade do fígado de produzir moléculas de colesterol e de posteriormente retirá-las de circulação e eliminá-las, o que depende de um complexo mecanismo de proteínas e receptores presentes nas células do fígado (conhecidas como hepatócitos). É por esse motivo que existem pacientes que, embora aparentemente saudáveis, apresentam doença aterosclerótica grave com manifestações importantes em idade não avançada, geralmente homens com menos de 55 anos e mulheres com menos de 65 anos.
Há, portanto, uma recomendação de avaliações periódicas para a população em geral com o médico cardiologista, para o estabelecimento do risco cardiovascular – o que naturalmente inclui a dosagem dos níveis de colesterol. Isso é especialmente verdadeiro para os indivíduos com história familiar importante de colesterol alto ou de eventos cardiovasculares como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em pacientes que inadvertidamente interrompem o uso da medicação, observa-se em um curto período de tempo a elevação dos níveis de colesterol, que normalmente voltam aos níveis que estavam antes do tratamento. Assim como os remédios para o controle da pressão arterial, os remédios para o controle do colesterol são de uso contínuo, e só devem ser interrompidos ou substituídos por orientação médica.
A dor no peito, também conhecida como dor torácica, é um sintoma bastante frequente na população. Pode ocorrer por um grande número de causas: distensão ou estiramento na musculatura do tórax (a chamada dor muscular); inflamação nas costelas ou nas cartilagens que se ligam a elas; problemas de acidez no estômago ou de refluxo gastroesofágico; dor nas dobras do intestino (conhecidas como flexuras) causada por gases; dor nas mamas em mulheres; crises de ansiedade ou síndrome do pânico.
A grande preocupação em um paciente com dor no peito é o fato de que muitas vezes a origem do sintoma está ligada ao sistema cardiovascular, por causas que muitas vezes são graves e podem levar à morte: doenças relacionadas às artérias coronárias (que são as artérias que levam sangue e oxigênio para o músculo cardíaco) como a angina pectoris e o infarto agudo do miocárdio; doenças inflamatórias do coração como a miocardite e a pericardite; doenças da aorta como o aneurisma aórtico e a dissecção aguda da aorta.
Uma avaliação com o cardiologista é fundamental para a avaliação correta da dor torácica, levando em conta os fatores de risco do paciente e as características da apresentação da dor torácica. Dessa forma pode-se diferenciar os quadros mais graves dos menos graves, ajudando a trazer tranquilidade para o paciente e trazendo os tratamentos mais adequados para cada caso, evitando que uma doença do coração evolua para um problema mais grave que pode trazer consequências sérias.
A dor torácica causada por problemas nas artérias coronárias tipicamente tem as seguintes características:
Dor em aperto ou queimação, normalmente no meio do tórax (na região que fica atrás do osso conhecido como esterno, a chamada dor retroesternal);
Irradiação para o pescoço, para um ou ambos os braços (muitas vezes com sensação de formigamento associada), para as costas e para a mandíbula;
Vem acompanhada de outros sintomas como falta de ar, tontura ou desmaio, náuseas, suor frio, palpitações;
Tem duração superior a 10-20 minutos;
Pode ser desencadeada por algum tipo de esforço físico (caminhada, subir escadas, carregar peso), com alívio quando o paciente repousa;
Pode estar associada a níveis de pressão arterial muito reduzidos (inferiores a 90/60 mmHg) ou muito elevados (superiores a 180/100 mmHg), bem como a uma frequência dos batimentos cardíacos reduzida (inferior a 50 bpm) ou elevada (superior a 120 bpm).
Episódios recorrentes de dor torácica com as características descritas acima devem ser avaliados sem demora pelo cardiologista. Em casos nos quais não há alívio da dor dentro de 20 minutos e os sintomas persistem, podemos estar diante de um quadro de infarto agudo do miocárdio. Nessa situação, o paciente deve ser prontamente encaminhado para um serviço de emergência – idealmente por meio de ambulância, porém o uso de meios próprios deve ser considerado para que não ocorra demora na avaliação do paciente.
Muitas vezes acontecem manifestações clínicas de dor torácica causadas por obstruções nas artérias coronárias, porém de intensidade mais leve ou de duração menos prolongada. Esses quadros podem preceder a manifestação de uma situação mais grave como o infarto agudo do miocárdio, e não devem ser negligenciados pelo paciente. Pacientes que apresentam manifestações recorrentes de dor torácica com características sugestivas de origem cardíaca devem ser prontamente avaliados pelo médico cardiologista.
A dor no peito pode ser comum tanto em situações de crise de ansiedade quanto em um quadro cardíaco. Pode ser difícil de diferenciar, porém em crises de ansiedade a dor costuma ser mais em pontada e localizada e em um quadro de infarto agudo do miocárdio a dor costuma ser opressiva e no meio do tórax, acompanhada de suor frio. Não compete ao paciente tentar diferenciar um quadro do outro: em casos de dor torácica prolongada deve ocorrer procura ao serviço de emergência para uma pronta avaliação e diferenciação dos casos, através de história clínica, exame físico, realização de eletrocardiograma, exames laboratoriais e exames de imagem.
Sim, não é incomum um paciente apresentar um quadro de infarto agudo do miocárdio sem sintomas ou com sintomas leves (mal-estar discreto com alguma sudorese), e isso pode ser especialmente verdadeiro em pacientes diabéticos. Nessas situações o infarto só é detectado através de exames feitos posteriormente, como o eletrocardiograma e o ecocardiograma.
Recomenda-se que os pacientes adultos façam avaliações preventivas periódicas com o cardiologista, e essa recomendação é mais forte para os pacientes com maior risco cardiovascular: pacientes com colesterol alto, hipertensos, diabéticos, fumantes ou com história na família de infarto ou outras doenças cardíacas.
Após uma avaliação cuidadosa, um paciente pode ter indicação de realização de cateterismo – também conhecido como cineangiocoronariografia – quando o médico tem forte suspeita de obstrução nas artérias coronárias que podem estar causando sintomas limitantes ou colocando o paciente em risco de um infarto agudo do miocárdio. Com as técnicas e equipamentos disponíveis atualmente, trata-se de um exame com baixa taxa de complicações (inferior a 1%) e que pode trazer informações valiosas e fornecer alternativas de tratamento para o coração. Uma grande quantidade de casos de obstruções de artérias coronárias pode ser resolvida durante a realização do cateterismo cardíaco, com a realização de uma angioplastia com colocação de stent, técnica que permite realizar a desobstrução de uma artéria associada a um dispositivo metálico que mantém a arquitetura da artéria, ajudando a mantê-la desobstruída. Em situações de emergência como a do infarto agudo do miocárdio, a realização rápida de cateterismo cardíaco e de angioplastia com colocação de Stent é medida reconhecida como salvadora de vidas, pois limita a extensão de um infarto e ajuda a preservar o músculo cardíaco. Nem sempre, no entanto, haverá necessidade de realização de angioplastia. Muitos casos podem ser tratados somente com medicações, e outros casos irão necessitar de cirurgia cardíaca (cirurgia de revascularização miocárdica, com uso de enxertos de mamária e ponte de safena). O cardiologista deverá indicar a intervenção terapêutica mais adequada para cada caso, a depender do perfil do paciente e da anatomia das lesões nas artérias coronárias.
O coração é o grande regente da orquestra do corpo humano, pois é o centro do sistema cardiovascular e tem a função de bombear o sangue para todos os órgãos e tecidos, o que garante o funcionamento normal do organismo. Cada batida do coração segue um ritmo bem definido, o que faz que o funcionamento dessa máquina seja extremamente eficiente. As arritmias cardíacas são a alteração desse ritmo, o que prejudica a função do coração e, por consequência, a saúde do indivíduo – podendo inclusive levar a situações de extrema gravidade. As arritmias podem ocorrer de diversas formas, seja por diminuição ou aumento dos batimentos cardíacos (bradicardias ou taquicardias), bem como por irregularidades nos tempos ou na sincronia da ativação elétrica das células do coração.
As arritmias cardíacas podem ser causadas por alterações estruturais do próprio coração. Quadros de infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, miocardites, pericardites ou alterações congênitas podem estar na origem de alterações dos batimentos cardíacos. Muitas vezes as arritmias cardíacas são causadas por doenças de outros órgãos com influência de hormônios e neurotransmissores sobre o coração, como por exemplo alterações na glândula tireóide (hipotireoidismo ou hipertireoidismo) ou alterações nos níveis de determinados eletrólitos no sangue como o potássio e o magnésio. Causas externas como medicações inadequadas, uso de álcool, cigarro, drogas ilícitas, estimulantes, termogênicos, anabolizantes e excesso de cafeína também podem estar na origem do problema. Quadros de ansiedade generalizada ou crise de pânico também podem desencadear alterações nos batimentos cardíacos.
Muitas vezes é de fato difícil diferenciar qual é o motivo do paciente estar apresentando um quadro de arritmia cardíaca, por isso é fundamental uma avaliação especializada com uma abordagem lógica para avaliação das características da arritmia e do paciente como um todo. O tratamento adequado das arritmias cardíacas leva a uma melhora acentuada na qualidade de vida e na própria sobrevida do paciente.
Em adultos, a frequência cardíaca considerada normal fica entre 50 e 100 batimentos por minuto (bpm). Embora não seja incomum uma pessoa saudável apresentar uma frequência cardíaca inferior a 50 bpm (atletas de alto rendimento, por exemplo) ou uma frequência cardíaca superior a 100 bpm (em estados de ansiedade ou crises de pânico, por exemplo), recomenda-se uma avaliação cuidadosa com o cardiologista no caso de alterações da frequência cardíaca.
Não é incomum que um adulto tenha eventualmente uma sensação de “falha” ou “batedeira” de curta duração, associado a um momento de maior nervosismo ou de privação de sono. Normalmente quadros pontuais, fugazes e esporádicos não causam maior preocupação. No entanto, recomenda-se avaliação com médico cardiologista se há uma percepção mais constante de alterações nos batimentos cardíacos, com sintomas mais duradouros, com aumentos ou diminuições na frequência dos batimentos do coração e, especialmente, se há associação com outros sintomas como falta de ar, dor no peito, suor frio e sensação de tontura ou desmaio. Situações onde os sintomas são persistentes ou limitantes podem inclusive ser indicativo de avaliação em Unidade de Emergência, especialmente se o paciente está pouco responsivo ou sem resposta a nenhum comando.
O primeiro passo em caso de alteração nos batimentos cardíacos é uma avaliação médica cuidadosa, com o levantamento da história clínica do paciente e a realização de um exame físico completo, incluindo a avaliação da pressão arterial, a checagem dos pulsos periféricos e a ausculta dos batimentos cardíacos.
O cardiologista também pode lançar mão de vários exames complementares, sendo primordial a realização do eletrocardiograma de 12 derivações (ECG), que documenta o ritmo do coração e a forma como se dá a ativação elétrica de todo o coração, o que auxilia não somente no diagnóstico do tipo de arritmia cardíaca mas também no diagnóstico de outras doenças cardíacas (ou mesmo não cardíacas) que possam estar associadas.
Outros exames complementares para a avaliação das arritmias são: o Holter, que é um dispositivo que realiza o registro contínuo do eletrocardiograma do paciente (duração tradicionalmente de 24 horas porém dispositivos mais recentes podem fazer registro de até 7 dias); o Looper implantável, que é um dispositivo implantado por pequena incisão que registra as alterações do ritmo cardíaco, podendo permanecer por períodos de tempo prolongados; o Teste Ergométrico, conhecido como Teste de Esforço, no qual um registro prolongado de eletrocardiograma é realizado enquanto o paciente é submetido a um esforço físico programado, com esteira ou bicicleta ergométrica, o que permite avaliar o apareciemento de arritmias ou outros problemas relacionados ao estresse físico; o Ecocardiograma com Doppler, que é o exame de imagem do coração realizado por ultrassonografia que evidencia possíveis alterações estruturais no órgão e a Ressonância Magnética do Coração, que é um exame de imagem complementar ao Ecocardiograma que pode auxiliar no diagnóstico de várias patologias cardíacas.
Em casos de arritmias mais leves, sem associação com doenças cardíacas ou sistêmicas graves, o tratamento das arritmias inclui mudanças no estilo de vida: evitar substâncias que possam desencadear arritmias, manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos com regularidade, ter uma rotina de sono adequada, evitar o estresse excessivo.
Muitas vezes o tratamento das arritmias cardíacas requer o uso de medicações, seja para o tratamento da causa de origem da arritmia ou para o tratamento da própria arritmia em si, reduzindo a frequência de aparecimento das crises e controlando os batimentos cardíacos. Casos mais graves irão necessitar diferentes tipos de intervenções, como a cardioversão elétrica (procedimento em que uma carga elétrica é aplicada no coração para o reestabelecimento do ritmo normal), o uso de dispositivos implantáveis como o marca-passo ou o desfibrilador interno (eletrodos implantáveis por pequenos acessos no tórax ligados a um gerador programável, que ajudam a manter os batimentos cardíacos e a prevenir arritmias graves), ou a ablação por catéter de radiofrequência (introduzido após punção em uma artéria ou veia periférica do paciente e conduzido até o coração, onde os locais onde determinados tipos de arritmias tem origem no coração são neutralizados).
A insuficiência cardíaca é uma doença na qual o coração não consegue bombear o sangue de forma adequada para a perfusão dos órgãos e tecidos do corpo. Isso pode acontecer por vários mecanismos diferentes: por redução da capacidade de contração do músculo cardíaco, por alteração no relaxamento do músculo cardíaco, por problemas nas válvulas do coração, por alterações no ritmo do coração, por alterações no pericárdio (a membrana que reveste o coração) ou por problemas cardíacos congênitos.
A insuficiência cardíaca pode ocorrer por várias razões. Uma das causas mais comuns é a doença das artérias coronárias, que são os vasos que levam sangue para o próprio coração. Uma falta de suprimento de sangue para uma determinada região do coração pode causar alterações na capacidade de contração ou de relaxamento do músculo cardíaco, levando à insuficiência cardíaca. Da mesma forma, uma obstrução total de uma artéria coronária pode levar a um infarto, o que causa perda de músculo cardíaco e surgimento de cicatrizes no coração, prejudicando a capacidade do órgão de bombear o sangue e tendo como consequência a insuficiência cardíaca.
As doenças das válvulas cardíacas, notadamente a mitral e a aórtica, também podem levar a alterações no funcionamento adequado do ciclo cardíaco, seja por insuficiência da válvula (levando a regurgitações ou refluxo do sangue nas câmaras do coração) ou por estenose da válvula (levando a dificuldade no fluxo de sangue de uma câmara a outra do coração).
A hipertensão arterial descontrolada também pode levar, no médio e no longo prazo, a alterações no relaxamento da musculatura cardíaca, a hipertrofia do músculo e eventualmente à dilatação das câmaras cardíacas, também causando insuficiência cardíaca. Outras doenças que afetam o coração como as miocardites, a amiloidose, a cardiomiopatia hipertrófica também são causa de insuficiência cardíaca.
Os sinais mais característicos apresentados pelo paciente com insuficiência cardíaca são os pés inchados (edema dos membros inferiores) e a falta de ar (dispnéia). O edema dos membros inferiores é causado pelo acúmulo de líquido pelo organismo, levando ao inchaço das pernas e tornozelos, e muitas vezes é percebido por uma dificuldade em colocar os calçados ou por marcas quando o pé ou o tornozelo é pressionado. Da mesma forma, a falta de ar é consequência do acúmulo de líquido nos pulmões, levando o paciente a apresentar dificuldade em realizar esforços físicos – inicialmente o paciente percebe falta de ar ao realizar grandes esforços como subir escadas ou carregar peso, porém pode haver progressão da dispnéia para a realização de esforços menores como tomar banho ou andar dentro de casa. Uma característica da falta de ar da pessoa com insuficiência cardíaca é a piora da falta de ar ao se deitar, o que leva o paciente a elevar a cabeceira e colocar dois ou mais travesseiros para dormir.
Outros sintomas decorrentes da insuficiência cardíaca incluem: tosse persistente (por vezes com muco espumoso), sensação de palpitações ou batedeira, inchaço e desconforto no abdômen, aumento da necessidade de urinar durante à noite, ganho de peso não explicado, dificuldade de concentração com confusão mental e lapsos de memória.
O paciente com suspeita de insuficiência cardíaca deve ser avaliado pelo cardiologista, que dispões de diversas ferramentas para realizar não somente o diagnóstico de insuficiência cardíaca mas também para aferir a gravidade do quadro. O médico deve direcionar suas suspeitas após uma cuidadosa avaliação clínica e exame físico detalhado, e pode avaliar o paciente utilizando-se de métodos como: o eletrocardiograma (ECG), que pode evidenciar sinais de sobrecarga, cicatrizes e alterações no ritmo do coração; a radiografia do tórax, que pode mostrar aumento das câmaras cardíacas e a presença de líquido nos pulmões; o ecocardiograma bidimensional com Doppler, que consegue demonstrar se há alteração na capacidade de contração ou relaxamento do músculo cardíaco, bem como alterações nas válvulas e nas câmaras cardíacas; e a ressonância magnética do coração, que é um método de imagem complementar ao ecocardiograma, auxiliando no diagnóstico de cicatrizes ou doenças infiltrativas do coração. Vários exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico e na avaliação da gravidade da insuficiência cardíaca, em especial a dosagem do NT-proBNP, que é um peptídeo específico cujos níveis no sangue se elevam em situações de sobrecarga do coração e auxilia a diferenciar as diversas causas de falta de ar e a avaliar a gravidade de um quadro de insuficiência cardíaca.
As doenças cardíacas são hoje a maior causa de mortalidade no mundo, sendo que a insuficiência cardíaca está entre os principais responsáveis por essa mortalidade – após o diagnóstico, estima-se que metade dos pacientes podem morrer em até cinco anos. A insuficiência cardíaca tem grande potencial em reduzir a expectativa de vida do paciente, especialmente quando ele não recebe o tratamento adequado. Os pacientes mais graves normalmente são aqueles que apresentam tolerância muito limitada aos esforços, cansando-se com esforços pequenos como sair da cama ou tomar banho, bem como aqueles que necessitam internações hospitalares recorrentes por descompensações da insuficiência cardíaca.
O tratamento da insuficiência cardíaca apresentou uma grande evolução nos últimos anos, respaldado por estudos científicos consistentes. Atualmente, muitos pacientes conseguem ter uma vida produtiva, mantendo a capacidade para trabalhar normalmente, fazer exercícios físicos e viajar, sem limitações importantes. O seguimento regular com o cardiologista é fundamental, com a realização de exames periódicos para avaliação da gravidade do quadro e ajuste terapêutico.
A associação de drogas de diferentes mecanismos de ação demonstrou claramente redução na mortalidade e melhora na qualidade de vida nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca. Recomenda-se fortemente, conforme a tolerância do paciente, a associação de quatro classes farmacológicas distintas:
Medicamentos da classe dos inibidores da ECA (iECA), bloqueadores do receptor de Angiotensina II (BRA) ou inibidor da neprilisina e dos receptores de angiotensina (INRA);
Medicamentos da classe dos betabloqueadores (BB); Medicamentos da classe dos antagonistas dos receptores de aldosterona (MRA); Medicamentos da classe dos inibidores do contransportador de sódio-glicose (iSGLT2);
Muitas vezes o paciente não tem acesso ao tratamento adequado, seja por falta de acesso ou por inércia terapêutica, o que pode prejudicar a qualidade de vida no médio e no longo prazo e reduzir a sobrevida. O cardiologista também deve, no momento ideal, indicar a necessidade de terapias intervencionistas, sejam elas por cirurgia cardíaca ou por via percutânea (sem necessidade de acesso direto ao tórax por esternotomia): revascularização miocárdica ou angioplastia coronária com implante de stent, correção de valvopatias, ablação de arritmias, implantes de marcapasso e dispositivos de ressincronização cardíaca, implante de dispositivos de assistência ventricular e, em última análise, a realização do transplante cardíaco.
Hipertensão Arterial, conhecida como “pressão alta”, é uma condição médica extremamente prevalente em toda a população mundial. Os níveis de pressão arterial elevados podem causar danos ao longo do tempo em diversos órgãos do corpo, como os olhos (principalmente as retinas), o coração, os rins e o cérebro. A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para o desencadeamento de eventos graves como o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Entre as principais causas de Hipertensão Arterial estão: a história familiar (fatores genéticos), a obesidade, o hábito de fumar (tabagismo), o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o estresse crônico, o consumo exagerado de sal, a falta de atividade física (sedentarismo), a falta de sono adequado por uma má higiene do sono ou pela presença de apnéia obstrutiva do sono (roncos excessivos associados a um sono não reparador). Várias doenças podem levar ao aumento dos níveis de pressão arterial, como o hipertireoidismo, a doença crônica dos rins (insuficiência renal), a estenose das artérias renais, além de condições mais raras como o hiperaldosteronismo (a produção excessiva de hormônios que levam à retenção de sal, causando aumento da pressão arterial), o feocromocitoma (um tumor das glândulas adrenais que causa elevação da pressão arterial e palpitações) e a coarctação da aorta (uma alteração congênita na qual há um estreitamento na aorta levando ao aumento da pressão arterial). Uma avaliação médica cuidadosa é fundamental para a avaliação das diferentes causas e o estabelecimento de um tratamento médico adequado.
O uso excessivo ou indiscriminado de medicações como anti-inflamatórios não hormonais, corticosteróides ou estimulantes do sistema nervoso central podem levar ao aumento não desejado da pressão arterial. Muito cuidado com “fórmulas milagrosas” ou “reposições hormonais” que muitas vezes contém excesso de substâncias ou hormônios que podem causar não somente elevação da pressão arterial mas também elevações nos níveis de colesterol, do açúcar no sangue (glicemia) e lesões em diversos órgãos como os rins, o fígado e o coração. O uso de energéticos, anabolizantes e termogênicos também podem causar elevações da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, bem como o uso de diversas drogas ilícitas, o que infelizmente tem acontecido cada vez mais frequentemente com a população mais jovem.
Na maioria dos casos, o paciente com aumento dos níveis da pressão arterial não apresenta sintomas – o que mostra a importância de se realizar uma avaliação cuidadosa com o cardiologista, para a detecção precoce da Hipertensão Arterial. No entanto, deve-se dar atenção a sintomas como: dor de cabeça, dores no peito, tonturas e zumbidos, alterações visuais como visão embaçada ou pontos luminosos, fraqueza e sonolência, falta de ar, palpitações – eles podem estar relacionados ao aumento dos níveis da pressão arterial.
As atuais diretrizes consideram que níveis de pressão arterial no repouso iguais ou acima de 140/90 mmHg caracterizam o diagnóstico de hipertensão arterial. No entanto, dados recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) evidenciam que deve-se dar atenção especial a pacientes com níveis de pressão arterial acima de 120/70 mmHg, que podem ser candidatos a tratamento a depender de outros fatores de risco, como diabetes mellitus, colesterol alto (dislipidemia), doença renal e doença aterosclerótica.
Recomenda-se a todos os pacientes que adotem um estilo de vida saudável: alimentação rica em frutas, verduras e legumes, evitando o excesso de sal e o consumo de alimentos ultraprocessados e industrializados; a prática de atividade física regular – inicialmente leve a moderada, pelo menos 3 vezes por semana; parar de fumar caso o paciente seja tabagista; moderar o consumo de bebidas alcoólicas. Muitos pacientes necessitarão acompanhamento médico regular com o cardiologista, que avaliará a necessidade do uso de medicações de uso diário para o controle da pressão arterial.
Há indicação de se procurar o setor de emergência de um serviço de saúde em situações em que a pressão arterial estiver muito elevada, normalmente acima de 180/110 mmHg, e o paciente estiver apresentando sintomas relevantes como dor no peito, dificuldade para respirar, tontura com náuseas e vômitos ou alterações visuais. O médico da emergência avaliará a necessidade de medicações para abaixar mais rapidamente a pressão arterial, bem como a necessidade de internação hospitalar para investigação do quadro e estabilização do paciente. É muito importante o seguimento posterior com um médico cardiologista de confiança para o controle da pressão arterial bem como de outros fatores de risco.
Alterações emocionais do tipo transtorno de ansiedade generalizada e crises de pânico podem se apresentar com sintomas muito semelhantes aos das crises de Hipertensão Arterial, inclusive com elevação dos níveis de pressão no momento da crise. É importante que seja realizada uma avaliação médica cuidadosa para avaliar se o tratamento deve ser direcionado ao controle do distúrbio emocional e para se avaliar o quanto as alterações emocionais estejam influenciando nos níveis de pressão arterial.
Atualmente existe um “arsenal terapêutico” bastante amplo para o tratamento adequado da pressão arterial, e uma das regras de ouro é que o tratamento deve ser individualizado caso a caso. Uma medicação que funciona bem com um paciente pode não funcionar ou causar efeitos colaterais em outro paciente, e por isso é muito importante que médico e paciente estabeleçam um bom diálogo para que as necessidades estejam claramente estabelecidas. Além disso, existem medicamentos que se adequam melhor a determinados perfis de paciente, por exemplo: diabéticos, pacientes com doença renal, pacientes com infarto prévio ou doença conhecida das artérias coronárias, pacientes com insuficiência cardíaca.
Normalmente não há necessidade de mudanças caso o tratamento esteja adequado, com níveis de pressão adequados e sem efeitos colaterais. Muitas vezes, no entanto, o tratamento está insuficiente e pode haver uma certa “inércia” por parte do médico, do paciente ou de ambos impedindo a otimização do tratamento. Em todos os casos, é fundamental que sejam realizadas visitas regulares ao médico cardiologista, que avaliará se o tratamento está adequado, se as metas estão estabelecidas e se não estão ocorrendo alterações indesejadas.
A elevação dos níveis de colesterol no sangue, conhecida como Dislipidemia, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A principal molécula causadora de danos no sistema cardiovascular é o LDL-colesterol (“Low Density Lipoprotein”, ou Lipoproteína de Baixa Densidade). Os níveis elevados do LDL-colesterol, com o passar do tempo, causam o depósito de placas de aterosclerose (conhecidas como “placas gordurosas”) na parede das artérias e, com isso, o aumento do risco de doenças graves como o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Quando é realizada a dosagem dos níveis de colesterol no sangue, é realizada a avaliação também dos níveis das diversas frações do colesterol. A molécula conhecida como “colesterol ruim” é o LDL-colesterol, e a elevação dos níveis dessa molécula está diretamente relacionada às doenças cardiovasculares causadas pela doença aterosclerótica, que é o depósito das chamadas “placas gordurosas” na parede das artérias – especialmente das artérias coronárias (que levam sangue e oxigênio para o músculo cardíaco), das artérias carótidas (que levam sangue e oxigênio para o cérebro) e da aorta, que é a principal artéria do corpo.
A molécula conhecida como “colesterol bom” é o HDL-colesterol (“High Density Lipoprotein”, ou Lipoproteína de Alta Densidade). O HDL-colesterol é responsável por auxiliar na remoção do excesso de colesterol do corpo, contribuindo para que não haja progressão da doença aterosclerótica.
De uma forma geral, deve-se dar atenção a níveis de colesterol total acima de 200 mg/dL ou de LDL-colesterol acima de 130 mg/dL. No entanto, os valores dos níveis desejáveis de colesterol variam de acordo com o perfil dos pacientes. As diretrizes brasileiras estabelecem que, em pacientes com doença aterosclerótica avançada ou com eventos cardiovasculares prévios (infarto do miocárdio ou AVC, por exemplo), os níveis de LDL-colesterol devem estar abaixo de 50 mg/dL. Em pacientes diabéticos ou de alto risco cardiovascular, a recomendação é manter os níveis de LDL-colesterol abaixo de 70 mg/dL. Por isso a importância de uma cuidadosa avaliação com o médico cardiologista, que deverá estabelecer o risco cardiovascular do paciente, definir as metas terapêuticas e, em conjunto com o paciente, definir o caminho a ser seguido para atingi-las.
Todos os pacientes devem adotar um estilo de vida saudável: realização de atividade física (inicalmente leve a moderada) pelo menos 3 vezes por semana e alimentação adequada, evitando alimentos ricos em gordura vegetal hidrogenada (alimentos industrializados e ultraprocessados), bem como alimentos ricos em gordura de origem animal ou gordura saturada, como embutidos, frituras, carnes gordas e laticínios ricos em gordura. Alimentos ricos em gordura vegetal ou insaturada são considerados saudáveis, como as castanhas e amêndoas, o azeite de oliva e os peixes – notadamente salmão, atum e sardinha.
Na maioria dos casos, entretanto, a origem do colesterol alto está ligado diretamente à genética do paciente. Não são incomuns casos de pacientes que apresentam elevação significativa dos níveis de colesterol mesmo tendo um estilo de vida saudável, tratando-se normalmente de pacientes com história familiar conhecida de colesterol alto.
Muitas vezes, portanto, será necessário o uso de medicações para o controle adequado dos níveis de colesterol. As principais medicações são as estatinas (como a rosuvastatina e a atorvastatina) e o ezetimibe (que normalmente é utilizado em associação com as estatinas). Mais recentemente surgiram novas drogas de alta eficácia e perfil de segurança extremamente favorável, notadamente a inclisirana (medicamento administrado por injeção subcutânea de uso semestral) que hoje constituem opção terapêutica viável para o sucesso no atingimento das metas de colesterol.
As medicações atualmente utilizadas para o controle do colesterol foram testadas em estudos clínicos rigorosos, com tempo prolongado de seguimento dos pacientes, sendo que várias delas já tem seu uso difundido há mais de 30 anos. São drogas consideradas seguras e de baixo risco para os pacientes. Embora não seja a regra, o principal efeito colateral decorrente do uso das estatinas como a rosuvastatina e a atorvastatina é a dor muscular, que embora não seja considerada uma alteração grave pode causar desconforto ao paciente, limitando a utilização da medicação. O médico cardiologista deverá entender as necessidades do paciente e buscar opções terapêuticas, dada a importância do controle adequado dos níveis de colesterol.
O HDL-colesterol, conhecido como “colesterol bom”, está diretamente relacionado a um estilo de vida saudável, notadamente à prática de atividade física regular. Considera-se atualmente que níveis de HDL-colesterol acima de 40 mg/dL sejam adequados, sendo que níveis acima de 60 mg/dL conferem efeito protetor. O consumo de alimentos ricos em gordura insaturada como castanhas, azeite de oliva e peixes e a prática de atividade física (evitar o sedentarismo) são as melhores medidas para manter níveis adequados de HDL-colesterol.
A principal causa de Dislipidemia ou colesterol alto é a história familiar. Os níveis de colesterol no sangue estão diretamente relacionados à capacidade do fígado de produzir moléculas de colesterol e de posteriormente retirá-las de circulação e eliminá-las, o que depende de um complexo mecanismo de proteínas e receptores presentes nas células do fígado (conhecidas como hepatócitos). É por esse motivo que existem pacientes que, embora aparentemente saudáveis, apresentam doença aterosclerótica grave com manifestações importantes em idade não avançada, geralmente homens com menos de 55 anos e mulheres com menos de 65 anos.
Há, portanto, uma recomendação de avaliações periódicas para a população em geral com o médico cardiologista, para o estabelecimento do risco cardiovascular – o que naturalmente inclui a dosagem dos níveis de colesterol. Isso é especialmente verdadeiro para os indivíduos com história familiar importante de colesterol alto ou de eventos cardiovasculares como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em pacientes que inadvertidamente interrompem o uso da medicação, observa-se em um curto período de tempo a elevação dos níveis de colesterol, que normalmente voltam aos níveis que estavam antes do tratamento. Assim como os remédios para o controle da pressão arterial, os remédios para o controle do colesterol são de uso contínuo, e só devem ser interrompidos ou substituídos por orientação médica.
A dor no peito, também conhecida como dor torácica, é um sintoma bastante frequente na população. Pode ocorrer por um grande número de causas: distensão ou estiramento na musculatura do tórax (a chamada dor muscular); inflamação nas costelas ou nas cartilagens que se ligam a elas; problemas de acidez no estômago ou de refluxo gastroesofágico; dor nas dobras do intestino (conhecidas como flexuras) causada por gases; dor nas mamas em mulheres; crises de ansiedade ou síndrome do pânico.
A grande preocupação em um paciente com dor no peito é o fato de que muitas vezes a origem do sintoma está ligada ao sistema cardiovascular, por causas que muitas vezes são graves e podem levar à morte: doenças relacionadas às artérias coronárias (que são as artérias que levam sangue e oxigênio para o músculo cardíaco) como a angina pectoris e o infarto agudo do miocárdio; doenças inflamatórias do coração como a miocardite e a pericardite; doenças da aorta como o aneurisma aórtico e a dissecção aguda da aorta.
Uma avaliação com o cardiologista é fundamental para a avaliação correta da dor torácica, levando em conta os fatores de risco do paciente e as características da apresentação da dor torácica. Dessa forma pode-se diferenciar os quadros mais graves dos menos graves, ajudando a trazer tranquilidade para o paciente e trazendo os tratamentos mais adequados para cada caso, evitando que uma doença do coração evolua para um problema mais grave que pode trazer consequências sérias.
A dor torácica causada por problemas nas artérias coronárias tipicamente tem as seguintes características:
Dor em aperto ou queimação, normalmente no meio do tórax (na região que fica atrás do osso conhecido como esterno, a chamada dor retroesternal);
Irradiação para o pescoço, para um ou ambos os braços (muitas vezes com sensação de formigamento associada), para as costas e para a mandíbula;
Vem acompanhada de outros sintomas como falta de ar, tontura ou desmaio, náuseas, suor frio, palpitações;
Tem duração superior a 10-20 minutos;
Pode ser desencadeada por algum tipo de esforço físico (caminhada, subir escadas, carregar peso), com alívio quando o paciente repousa;
Pode estar associada a níveis de pressão arterial muito reduzidos (inferiores a 90/60 mmHg) ou muito elevados (superiores a 180/100 mmHg), bem como a uma frequência dos batimentos cardíacos reduzida (inferior a 50 bpm) ou elevada (superior a 120 bpm).
Episódios recorrentes de dor torácica com as características descritas acima devem ser avaliados sem demora pelo cardiologista. Em casos nos quais não há alívio da dor dentro de 20 minutos e os sintomas persistem, podemos estar diante de um quadro de infarto agudo do miocárdio. Nessa situação, o paciente deve ser prontamente encaminhado para um serviço de emergência – idealmente por meio de ambulância, porém o uso de meios próprios deve ser considerado para que não ocorra demora na avaliação do paciente.
Muitas vezes acontecem manifestações clínicas de dor torácica causadas por obstruções nas artérias coronárias, porém de intensidade mais leve ou de duração menos prolongada. Esses quadros podem preceder a manifestação de uma situação mais grave como o infarto agudo do miocárdio, e não devem ser negligenciados pelo paciente. Pacientes que apresentam manifestações recorrentes de dor torácica com características sugestivas de origem cardíaca devem ser prontamente avaliados pelo médico cardiologista.
A dor no peito pode ser comum tanto em situações de crise de ansiedade quanto em um quadro cardíaco. Pode ser difícil de diferenciar, porém em crises de ansiedade a dor costuma ser mais em pontada e localizada e em um quadro de infarto agudo do miocárdio a dor costuma ser opressiva e no meio do tórax, acompanhada de suor frio. Não compete ao paciente tentar diferenciar um quadro do outro: em casos de dor torácica prolongada deve ocorrer procura ao serviço de emergência para uma pronta avaliação e diferenciação dos casos, através de história clínica, exame físico, realização de eletrocardiograma, exames laboratoriais e exames de imagem.
Sim, não é incomum um paciente apresentar um quadro de infarto agudo do miocárdio sem sintomas ou com sintomas leves (mal-estar discreto com alguma sudorese), e isso pode ser especialmente verdadeiro em pacientes diabéticos. Nessas situações o infarto só é detectado através de exames feitos posteriormente, como o eletrocardiograma e o ecocardiograma.
Recomenda-se que os pacientes adultos façam avaliações preventivas periódicas com o cardiologista, e essa recomendação é mais forte para os pacientes com maior risco cardiovascular: pacientes com colesterol alto, hipertensos, diabéticos, fumantes ou com história na família de infarto ou outras doenças cardíacas.
Após uma avaliação cuidadosa, um paciente pode ter indicação de realização de cateterismo – também conhecido como cineangiocoronariografia – quando o médico tem forte suspeita de obstrução nas artérias coronárias que podem estar causando sintomas limitantes ou colocando o paciente em risco de um infarto agudo do miocárdio. Com as técnicas e equipamentos disponíveis atualmente, trata-se de um exame com baixa taxa de complicações (inferior a 1%) e que pode trazer informações valiosas e fornecer alternativas de tratamento para o coração. Uma grande quantidade de casos de obstruções de artérias coronárias pode ser resolvida durante a realização do cateterismo cardíaco, com a realização de uma angioplastia com colocação de stent, técnica que permite realizar a desobstrução de uma artéria associada a um dispositivo metálico que mantém a arquitetura da artéria, ajudando a mantê-la desobstruída. Em situações de emergência como a do infarto agudo do miocárdio, a realização rápida de cateterismo cardíaco e de angioplastia com colocação de Stent é medida reconhecida como salvadora de vidas, pois limita a extensão de um infarto e ajuda a preservar o músculo cardíaco. Nem sempre, no entanto, haverá necessidade de realização de angioplastia. Muitos casos podem ser tratados somente com medicações, e outros casos irão necessitar de cirurgia cardíaca (cirurgia de revascularização miocárdica, com uso de enxertos de mamária e ponte de safena). O cardiologista deverá indicar a intervenção terapêutica mais adequada para cada caso, a depender do perfil do paciente e da anatomia das lesões nas artérias coronárias.
O coração é o grande regente da orquestra do corpo humano, pois é o centro do sistema cardiovascular e tem a função de bombear o sangue para todos os órgãos e tecidos, o que garante o funcionamento normal do organismo. Cada batida do coração segue um ritmo bem definido, o que faz que o funcionamento dessa máquina seja extremamente eficiente. As arritmias cardíacas são a alteração desse ritmo, o que prejudica a função do coração e, por consequência, a saúde do indivíduo – podendo inclusive levar a situações de extrema gravidade. As arritmias podem ocorrer de diversas formas, seja por diminuição ou aumento dos batimentos cardíacos (bradicardias ou taquicardias), bem como por irregularidades nos tempos ou na sincronia da ativação elétrica das células do coração.
As arritmias cardíacas podem ser causadas por alterações estruturais do próprio coração. Quadros de infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, miocardites, pericardites ou alterações congênitas podem estar na origem de alterações dos batimentos cardíacos. Muitas vezes as arritmias cardíacas são causadas por doenças de outros órgãos com influência de hormônios e neurotransmissores sobre o coração, como por exemplo alterações na glândula tireóide (hipotireoidismo ou hipertireoidismo) ou alterações nos níveis de determinados eletrólitos no sangue como o potássio e o magnésio. Causas externas como medicações inadequadas, uso de álcool, cigarro, drogas ilícitas, estimulantes, termogênicos, anabolizantes e excesso de cafeína também podem estar na origem do problema. Quadros de ansiedade generalizada ou crise de pânico também podem desencadear alterações nos batimentos cardíacos.
Muitas vezes é de fato difícil diferenciar qual é o motivo do paciente estar apresentando um quadro de arritmia cardíaca, por isso é fundamental uma avaliação especializada com uma abordagem lógica para avaliação das características da arritmia e do paciente como um todo. O tratamento adequado das arritmias cardíacas leva a uma melhora acentuada na qualidade de vida e na própria sobrevida do paciente.
Em adultos, a frequência cardíaca considerada normal fica entre 50 e 100 batimentos por minuto (bpm). Embora não seja incomum uma pessoa saudável apresentar uma frequência cardíaca inferior a 50 bpm (atletas de alto rendimento, por exemplo) ou uma frequência cardíaca superior a 100 bpm (em estados de ansiedade ou crises de pânico, por exemplo), recomenda-se uma avaliação cuidadosa com o cardiologista no caso de alterações da frequência cardíaca.
Não é incomum que um adulto tenha eventualmente uma sensação de “falha” ou “batedeira” de curta duração, associado a um momento de maior nervosismo ou de privação de sono. Normalmente quadros pontuais, fugazes e esporádicos não causam maior preocupação. No entanto, recomenda-se avaliação com médico cardiologista se há uma percepção mais constante de alterações nos batimentos cardíacos, com sintomas mais duradouros, com aumentos ou diminuições na frequência dos batimentos do coração e, especialmente, se há associação com outros sintomas como falta de ar, dor no peito, suor frio e sensação de tontura ou desmaio. Situações onde os sintomas são persistentes ou limitantes podem inclusive ser indicativo de avaliação em Unidade de Emergência, especialmente se o paciente está pouco responsivo ou sem resposta a nenhum comando.
O primeiro passo em caso de alteração nos batimentos cardíacos é uma avaliação médica cuidadosa, com o levantamento da história clínica do paciente e a realização de um exame físico completo, incluindo a avaliação da pressão arterial, a checagem dos pulsos periféricos e a ausculta dos batimentos cardíacos.
O cardiologista também pode lançar mão de vários exames complementares, sendo primordial a realização do eletrocardiograma de 12 derivações (ECG), que documenta o ritmo do coração e a forma como se dá a ativação elétrica de todo o coração, o que auxilia não somente no diagnóstico do tipo de arritmia cardíaca mas também no diagnóstico de outras doenças cardíacas (ou mesmo não cardíacas) que possam estar associadas.
Outros exames complementares para a avaliação das arritmias são: o Holter, que é um dispositivo que realiza o registro contínuo do eletrocardiograma do paciente (duração tradicionalmente de 24 horas porém dispositivos mais recentes podem fazer registro de até 7 dias); o Looper implantável, que é um dispositivo implantado por pequena incisão que registra as alterações do ritmo cardíaco, podendo permanecer por períodos de tempo prolongados; o Teste Ergométrico, conhecido como Teste de Esforço, no qual um registro prolongado de eletrocardiograma é realizado enquanto o paciente é submetido a um esforço físico programado, com esteira ou bicicleta ergométrica, o que permite avaliar o apareciemento de arritmias ou outros problemas relacionados ao estresse físico; o Ecocardiograma com Doppler, que é o exame de imagem do coração realizado por ultrassonografia que evidencia possíveis alterações estruturais no órgão e a Ressonância Magnética do Coração, que é um exame de imagem complementar ao Ecocardiograma que pode auxiliar no diagnóstico de várias patologias cardíacas.
Em casos de arritmias mais leves, sem associação com doenças cardíacas ou sistêmicas graves, o tratamento das arritmias inclui mudanças no estilo de vida: evitar substâncias que possam desencadear arritmias, manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos com regularidade, ter uma rotina de sono adequada, evitar o estresse excessivo.
Muitas vezes o tratamento das arritmias cardíacas requer o uso de medicações, seja para o tratamento da causa de origem da arritmia ou para o tratamento da própria arritmia em si, reduzindo a frequência de aparecimento das crises e controlando os batimentos cardíacos. Casos mais graves irão necessitar diferentes tipos de intervenções, como a cardioversão elétrica (procedimento em que uma carga elétrica é aplicada no coração para o reestabelecimento do ritmo normal), o uso de dispositivos implantáveis como o marca-passo ou o desfibrilador interno (eletrodos implantáveis por pequenos acessos no tórax ligados a um gerador programável, que ajudam a manter os batimentos cardíacos e a prevenir arritmias graves), ou a ablação por catéter de radiofrequência (introduzido após punção em uma artéria ou veia periférica do paciente e conduzido até o coração, onde os locais onde determinados tipos de arritmias tem origem no coração são neutralizados).
A insuficiência cardíaca é uma doença na qual o coração não consegue bombear o sangue de forma adequada para a perfusão dos órgãos e tecidos do corpo. Isso pode acontecer por vários mecanismos diferentes: por redução da capacidade de contração do músculo cardíaco, por alteração no relaxamento do músculo cardíaco, por problemas nas válvulas do coração, por alterações no ritmo do coração, por alterações no pericárdio (a membrana que reveste o coração) ou por problemas cardíacos congênitos.
A insuficiência cardíaca pode ocorrer por várias razões. Uma das causas mais comuns é a doença das artérias coronárias, que são os vasos que levam sangue para o próprio coração. Uma falta de suprimento de sangue para uma determinada região do coração pode causar alterações na capacidade de contração ou de relaxamento do músculo cardíaco, levando à insuficiência cardíaca. Da mesma forma, uma obstrução total de uma artéria coronária pode levar a um infarto, o que causa perda de músculo cardíaco e surgimento de cicatrizes no coração, prejudicando a capacidade do órgão de bombear o sangue e tendo como consequência a insuficiência cardíaca.
As doenças das válvulas cardíacas, notadamente a mitral e a aórtica, também podem levar a alterações no funcionamento adequado do ciclo cardíaco, seja por insuficiência da válvula (levando a regurgitações ou refluxo do sangue nas câmaras do coração) ou por estenose da válvula (levando a dificuldade no fluxo de sangue de uma câmara a outra do coração).
A hipertensão arterial descontrolada também pode levar, no médio e no longo prazo, a alterações no relaxamento da musculatura cardíaca, a hipertrofia do músculo e eventualmente à dilatação das câmaras cardíacas, também causando insuficiência cardíaca. Outras doenças que afetam o coração como as miocardites, a amiloidose, a cardiomiopatia hipertrófica também são causa de insuficiência cardíaca.
Os sinais mais característicos apresentados pelo paciente com insuficiência cardíaca são os pés inchados (edema dos membros inferiores) e a falta de ar (dispnéia). O edema dos membros inferiores é causado pelo acúmulo de líquido pelo organismo, levando ao inchaço das pernas e tornozelos, e muitas vezes é percebido por uma dificuldade em colocar os calçados ou por marcas quando o pé ou o tornozelo é pressionado. Da mesma forma, a falta de ar é consequência do acúmulo de líquido nos pulmões, levando o paciente a apresentar dificuldade em realizar esforços físicos – inicialmente o paciente percebe falta de ar ao realizar grandes esforços como subir escadas ou carregar peso, porém pode haver progressão da dispnéia para a realização de esforços menores como tomar banho ou andar dentro de casa. Uma característica da falta de ar da pessoa com insuficiência cardíaca é a piora da falta de ar ao se deitar, o que leva o paciente a elevar a cabeceira e colocar dois ou mais travesseiros para dormir.
Outros sintomas decorrentes da insuficiência cardíaca incluem: tosse persistente (por vezes com muco espumoso), sensação de palpitações ou batedeira, inchaço e desconforto no abdômen, aumento da necessidade de urinar durante à noite, ganho de peso não explicado, dificuldade de concentração com confusão mental e lapsos de memória.
O paciente com suspeita de insuficiência cardíaca deve ser avaliado pelo cardiologista, que dispões de diversas ferramentas para realizar não somente o diagnóstico de insuficiência cardíaca mas também para aferir a gravidade do quadro. O médico deve direcionar suas suspeitas após uma cuidadosa avaliação clínica e exame físico detalhado, e pode avaliar o paciente utilizando-se de métodos como: o eletrocardiograma (ECG), que pode evidenciar sinais de sobrecarga, cicatrizes e alterações no ritmo do coração; a radiografia do tórax, que pode mostrar aumento das câmaras cardíacas e a presença de líquido nos pulmões; o ecocardiograma bidimensional com Doppler, que consegue demonstrar se há alteração na capacidade de contração ou relaxamento do músculo cardíaco, bem como alterações nas válvulas e nas câmaras cardíacas; e a ressonância magnética do coração, que é um método de imagem complementar ao ecocardiograma, auxiliando no diagnóstico de cicatrizes ou doenças infiltrativas do coração. Vários exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico e na avaliação da gravidade da insuficiência cardíaca, em especial a dosagem do NT-proBNP, que é um peptídeo específico cujos níveis no sangue se elevam em situações de sobrecarga do coração e auxilia a diferenciar as diversas causas de falta de ar e a avaliar a gravidade de um quadro de insuficiência cardíaca.
As doenças cardíacas são hoje a maior causa de mortalidade no mundo, sendo que a insuficiência cardíaca está entre os principais responsáveis por essa mortalidade – após o diagnóstico, estima-se que metade dos pacientes podem morrer em até cinco anos. A insuficiência cardíaca tem grande potencial em reduzir a expectativa de vida do paciente, especialmente quando ele não recebe o tratamento adequado. Os pacientes mais graves normalmente são aqueles que apresentam tolerância muito limitada aos esforços, cansando-se com esforços pequenos como sair da cama ou tomar banho, bem como aqueles que necessitam internações hospitalares recorrentes por descompensações da insuficiência cardíaca.
O tratamento da insuficiência cardíaca apresentou uma grande evolução nos últimos anos, respaldado por estudos científicos consistentes. Atualmente, muitos pacientes conseguem ter uma vida produtiva, mantendo a capacidade para trabalhar normalmente, fazer exercícios físicos e viajar, sem limitações importantes. O seguimento regular com o cardiologista é fundamental, com a realização de exames periódicos para avaliação da gravidade do quadro e ajuste terapêutico.
A associação de drogas de diferentes mecanismos de ação demonstrou claramente redução na mortalidade e melhora na qualidade de vida nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca. Recomenda-se fortemente, conforme a tolerância do paciente, a associação de quatro classes farmacológicas distintas:
Medicamentos da classe dos inibidores da ECA (iECA), bloqueadores do receptor de Angiotensina II (BRA) ou inibidor da neprilisina e dos receptores de angiotensina (INRA);
Medicamentos da classe dos betabloqueadores (BB); Medicamentos da classe dos antagonistas dos receptores de aldosterona (MRA); Medicamentos da classe dos inibidores do contransportador de sódio-glicose (iSGLT2);
Muitas vezes o paciente não tem acesso ao tratamento adequado, seja por falta de acesso ou por inércia terapêutica, o que pode prejudicar a qualidade de vida no médio e no longo prazo e reduzir a sobrevida. O cardiologista também deve, no momento ideal, indicar a necessidade de terapias intervencionistas, sejam elas por cirurgia cardíaca ou por via percutânea (sem necessidade de acesso direto ao tórax por esternotomia): revascularização miocárdica ou angioplastia coronária com implante de stent, correção de valvopatias, ablação de arritmias, implantes de marcapasso e dispositivos de ressincronização cardíaca, implante de dispositivos de assistência ventricular e, em última análise, a realização do transplante cardíaco.